29/04/2017

Resenha - Resistência


Nome: Resistência
No Original: Mischling
Autor (a): Affinity Konar
Tradutor (a): Alyda Sauer
Páginas: 320
Editora: Fábrica 231
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Sinopse: Pearl e Stasha chegam a Auschwitz em 1944 e ainda vivem sob o encantamento da infância – têm uma conexão muito forte, se entendem, se confortam e brincam juntas. Como parte de um experimento chamado Zoológico de Mengele, as irmãs conhecem o horror e têm suas identidades fraturadas pela dor e pelo sofrimento. No inverno, Pearl desaparece; Stasha chora pela irmã, mas mantém a esperança de encontrá-la viva. Ao final do conflito, Stasha se depara com um mundo em ruínas, uma Polônia devastada pela guerra, e tenta reconstruir sua vida a partir dali. Romance narrado com uma voz poderosa e única, Resistência desafia qualquer expectativa ao atravessar um dos períodos mais devastadores da história contemporânea e mostrar que há beleza e esperança até diante do caos e ganhou elogios da crítica e de autores como Anthony Doerr, de Toda luz que não podemos ver.

Resistência é um daqueles livros que assim que a gente vê dá um nó no estomago e sabemos que precisamos ler. Em um tempo de tanto horrores gratuitos e naturalizados precisamos ler para nunca esquecer. Conhecemos muitos livros sobre a Segunda Guerra, ambientados nela, de romance, de milagres, de horrores, de grande atos de coragem e grandes atos de covardia. Resistência, de Affinity Konar é um pouco de tudo isso. Só de ver o nome de Mengele na sinopse já sentimos o sangue gelar. Conheçam.

Pearl e Stasha são gêmeas, sombras uma da outra, unidas pelo conhecimento passado pelo avô sobre os seres vivos e vivendo um encantamento diferente entre si. Quando chegam ao "zoológico de Mengele" as duas têm sua visão de mundo desafiada. Pearl e Stasha não entendem mais onde se encaixam no mundo e que classificação é essa feita pelo homem que passarão a chamar de "tio". Vivendo em estábulos em Auschwitz ao lado de gêmeas, trigêmeas, albinas, anões e todo o tipo de pessoas com diferentes traços genéticos as irmãs criam versões de si. A mais sorridente e ativa Pearl se fecha e Stasha encontra uma voz para dar sentido a violência. Criando mundos próprios elas enfrentam a realidade com uma resiliência devastadora. Ambas separam-se do que eram quando chegaram, transformando-se em algo novo, marcadas e separadas pelos experimentos e pela imaginação sádica do médico que viria a fugir por anos da chamada "justiça". E quando Pearl subitamente desaparece Stasha perde o último pedaço de si.

Essa é a premissa de Resistência, livro onde Affinity Konar transforma dor e sofrimento em entrelinhas marcadas por um tipo de dor ainda pior: a dor da alma. A autora traduz todos os gritos de pavor, todos os gemidos e toda a agonia enfrentada pelas crianças do zoológico de Mengele em uma poesia que machuca. A autora conduz o leitor pela transformação das gêmeas Pearl e Stasha de forma incomoda, que cutuca no que temos de "eu" e nos faz querer gritar, voltar no tempo e matar lentamente o médico de Auschwitz, afinal xingá-lo e amaldiçoá-lo é pouco e pensar que tudo o que a autora nos poupou transformando em uma dor subjetiva, que dói, mas não é explícita aconteceu de verdade é pior ainda.

A história de Pearl, Stasha e todos os outros gêmeos, trigêmeos e personagens do zoológico se torna ainda mais doída quando pensamos no mundo que vivemos. Resistência é um livro para te fazer duvidar do ser humano. Como um ser capaz de tanta maldade pode ser capaz de tolerar tanta dor? É uma contradição sem explicação. O livro é leitura mais que recomendada, necessária e que consegue captar o que mais precisamos levar desse período da História. O sofrimento mutilante de tantas pessoas, as vozes roubadas, as vidas despedaçadas e a certeza da causa dos perpetradores.

A prosa da autora é delicada, alterna as vozes narrativas das duas irmãs, conduzindo a história cada uma com sua força pessoal, levando o leitor por passagens difíceis sem nunca cair no lugar comum. Uma ambientação poderosa e escolha corajosas marcam a estreia de Affinity Konar. A edição da Fábrica 231 está linda. Uma capa delicada que capta a essência das protagonistas, a beleza marcada das gêmeas e uma tradução atenciosa, fluída. Um belo livro para uma história sombria, um romance não menos, mas um romance que ecoa histórias reais ainda piores. Recomendo a todos. Sem poréns e sem talvezes. Leia e lembre porque jamais devemos esquecer. Até mais!

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