04/01/2017

Resenha - O Livro das Coisas Estranhas


Nome: O Livro das Coisas Estranhas
No Original: The Book of Strange New Things
Autor (a): Michel Faber
Tradutor (a): Simone Campos
Páginas: 528
Editora: Rocco
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Sinopse: Último romance do aclamado Michel Faber, autor de Sob a pele e Pétala escarlate, flor branca, entre outros, O livro das coisas estranhas teve calorosa recepção do público e da crítica, figurou na tradicional lista do The New York Times dos 100 livros notáveis do ano em 2014 e reafirma a posição de Faber como um dos mais inovadores e interessantes escritores contemporâneos. A trama se desenrola num futuro próximo e acompanha o pastor Peter Leigh na missão de catequizar a civilização extraterreste do planeta Oasis. Afastado de sua mulher, seu gato, seu mundo, Peter vê sua fé ser testada até o limite, progressivamente se alienando de sua própria espécie, numa narrativa tocante que leva o leitor a refletir sobre temas como amor, separação e a natureza da fé religiosa.

Quando vi o livro entre os lançamentos da Rocco fiquei curiosa por ser do Michel Faber, autor que já havia me deixando confusa com Sob A Pele e também intrigada pela premissa. Estou tendo Antropologia de disciplina na faculdade e toda a parte viajar a outro planeta para evangelizar os povos é paralela a parte do que estudamos e ver como o autor ia trabalhar essa mistura de ficção-científica com ficção teológica-antropológica-filosófica foi tentador demais para não solicitar o livro. Conheçam.

Peter é um pastor e está embarcando para o planeta Oásis. Entrevistado e selecionado pela empresa USIC ele ainda não acredita que foi escolhido e está ansioso para levar a palavra de Jesus tão longe. Peter não é um pastor convencional, tem visão ampla do mundo e do conhecimento, culto, discute de diversos assuntos e sempre surpreende seu interlocutor, que espera um homem preso cegamente a sua fé. Casado com Bea, Peter já foi viciado em drogas e conheceu uma existência afastado de Deus. Foi ao lado de Bea que ele encontrou Jesus e agora depois de atravessar milhões de anos-luz ele quer começar seu trabalho logo. Assim que chega a Oásis ele percebe que o funcionamento da USIC e suas atividades no planeta são bem diferentes do que ele imaginara. O pessoal, em sua maioria engenheiros, é agradável, mas bem diferentes de si. Os dias são estranhos, uma noite equivale à três de nossos dias e Peter demora a ajustar o corpo. A água é verde e o clima estranho, mas acima de tudo o povo que ele encontra é para lá de inesperado. Seja pelo físico, pelos hábitos ou pelo modo de falar. Capítulo a capítulo esperamos com Peter, e entre uma mensagem e outra para Bea nos envolvemos com sua história, e para nossa surpresa a verdadeira história que o autor quer nos contar é bem diferente do que esperamos.

Essa é a premissa construída por Faber e para os impacientes este é um livro estranho. A narrativa é em primeira pessoa e mais uma vez o autor apresenta um livro, dentro de um certo gênero, mas com outra ideia em mente. Baseado na surpresa que foi o outro livro dele já devia esperar isto. O Livro das Coisas Estranhas é longe de ser um livro sobre evangelizar um planeta e sua transformação através de construções do ser humano. O que Michel Faber quer que prestemos atenção é na fragilidade das relações humanas, na forma como conhecemos as pessoas, como nos deixamos afetar por cada estranho que entre em contato conosco ao longo da vida. Através de Peter e suas conversas longas com os diversos membros do grupo que está em Oásis conhecemos muito do ser humano de um futuro próximo.

E é aí que está a chave para o livro. A cada capítulo ficamos esperando algo dentro da premissa acontecer. Peter começar a evangelizar, a levar a palavra de Deus, a viver com os locais, conhecer seu modo de vida, e qualquer coisa do tipo, mas o que recebemos vai além, é seu relacionamento com todos da base e as mensagens trocadas com sua esposa. Enquanto ele conhece pessoas diferentes, se intriga com algumas coisas e começa a entender como conviver com os locais Bea vê o planeta Terra desmoronar. Não sabemos se a situação já estava ruim antes de Peter partir, mas enquanto ele está em Oásis tudo acontece, de desastres naturais gigantescos a doenças. Nessa dualidade paraíso-inferno o autor nos guia por uma história que parece não ir a lugar nenhum no sentido comum dos livros, mas que é profundamente desenvolvida em laços filosóficos, teológicos e psicológicos.

Leitura diferente, que nos instiga em busca de respostas, mas que pouco a pouco aceitamos que não é comum e não vai apenas "começar e terminar", entre um e outro tem muito mais. Não é atoa que o livro teve os direitos comprados para o cinema por um preço alto. Se você leu o livro anterior do autor e/ou viu o filme sabe bem o que estou falando. Sua história está no humano, no seu "eu", nos seus desejos, nas suas relações e mal posso esperar para o filme. A edição da Rocco está ótima, com uma bela capa e tradução cuidadosa. Gosto de respostas, mas ao longo dos anos como leitora aprendi a apreciar livros que podem parecer frustrantes à primeira vista, mas que nos deixa pensando muito depois de tê-los fechados. Recomendo ao leitor que quer algo novo, que vá além de qualquer sinopse, um livro que fala de amor, de relações, de fé, de perda e de conexões. Leiam e se deixem levar! Até mais!

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