29/06/2015

Resenha - Alif, O Invisível


Nome: Alif, O Invisível
No Original: Alif, The Unseen
Autor (a): G. Willow Wilson
Tradutor (a): Ryta Vinagre
Páginas: 352
Editora: Fantástica Rocco
Comprar: Submarino - Travessa - Saraiva - Cultura
Sinopse: Em um estado de exceção no Oriente Médio, um jovem hacker que atende pelo nome de Alif – a primeira letra do alfabeto árabe – oferece seus serviços a grupos de dissidentes sob observação do governo e faz o possível para se manter longe de problemas. Mas quando seu computador é invadido pela força de segurança eletrônica do Estado e ele se torna um foragido político, Alif se lança em uma perigosa jornada com a ajuda de uma vizinha apaixonada, um djin e uma americana convertida ao Islã.

Quando a Rocco enviou o kit de Alif, O Invisível fiquei muito feliz apesar de ainda ter dúvidas sobre o livro de G. Willow Wilson. Com uma história repleta de metáforas e que mostra um Oriente que poucos conhecem deste lado do Atlântico, a autora surpreende e encanta o leitor, que para aproveitar bem a história deverá abrir a mente e observar as entrelinhas, pois em Alif, O Invisível a trama central é apenas a primeira de muitas. Conheçam.

Alif era seu nome na rede, nos recantos da deep web ele mantinha seus clientes a salvo da Mão, órgão do governo da Cidade que aterrorizava à todos com sua censura e prisão de qualquer um suspeito de participar de conversas sobre revolução. Com sua mãe indiana muitos olhavam torto para Alif, mas na rede ele era o melhor hacker, invisível para os censores. Se um dia a Mão pegasse Alif seus clientes pelo mundo e a revolução estaria comprometida, era aterrorizante só de pensar e ele nunca imaginou que tudo desmoronaria quando criasse o que deveria ser um simples e impossível código para sumir da vida de Intisar, a garota que conheceu online e que partira seu coração ao anunciar que seu pai a prometera em casamento. Quando Alif descobre que o noivo de Intisar é a Mão e que ele usou a máquina dela para chegar a nuvem de Alif colocando todos seus clientes em risco ele sabe que é tarde demais. Fugir é a única opção e ele ainda tem de levar Dina junto, a garota que conhece desde pequeno e que agora colocou em risco. Quando um dos contatos de Alif sugere procurar Vikram, o Vampiro ambos debocham, afinal que criança nunca ouviu o conto sobre o djin, mas para surpresa de ambos o misterioso livro que Intisar mandou entregar a Alif desperta o interesse de Vikram, que realmente existe e com sua forma animalesca incomoda até mesmo Alif. Ao lado de Dina ele precisará descobrir o valor do Alf Yeom, e mais do que fugir da Mão, Alif descobrirá que o valor das coisas nem sempre pode ser visto à primeira vista.

Essa é a premissa básica de Alif, mas devo dizer que não podemos simplificar o livro de G. Willow Wilson em poucas palavras. Sua história é única, com um pé na realidade e um pé na fantasia, a autora usa metáforas para nos contar uma história que pode ser encarada como fantasia e como realidade, basta o leitor ser sensível o suficiente para ir além do significado das palavras. Logo no começo, durante uma conversa do protagonista a autora como que em um aviso nos diz que todos os livros são metáforas, e após terminada a leitura de Alif, O Invisível não poderia concordar mais com essa afirmação. Com uma bela narrativa, dotada de uma fluidez marcante, e de uma capacidade única de dizer mais do que está escrito Wilson cativará leitores dos mais variados tipos com uma história inteligente sobre a rede, sobre codificação, mas além disso sobre amor, amizade, sacrifício, liberdade e poder. Sobre culturas diferentes, sobre os mitos do oriente, sua riqueza e beleza.

Um retrato sincero do oriente que deixa o leitor com vontade de conhecer mais apesar de todas as dificuldades do mundo. Wilson é sincera ao descrever com olhar ácido a relação entre ocidente e oriente, ao chamar a Cidade de apenas Cidade, descrever as petrolíferas da forma que descreveu ela nos dá sua opinião mais sincera. Gaiman fala que Wilson é uma construtora de pontes, e é o comentário perfeito. A história de Alif estende uma ponte, mesmo que por um pequeno tempo para vivermos a realidade das perseguições, das revoluções e de um mundo onde dizer o que pensa pode resultar em prisão e morte. Alif diz que nós do ocidente somos ridículos por reclamar por causa de liberdade e olha, sim, nós somos, mal sabemos o que é censura e depois de sua história tenho vergonha do tanto que desconhecemos da realidade das partes em conflito do mundo. É fácil cobrar do mundo sentados no conforto de nossas casas, é fácil falar de censura indo votar com a maior má vontade do mundo de 4 em 4 anos. Pobres iludidos.

Leitura instigante, de ritmo envolvente impossível de largar antes do ponto final definitivo. Estou encantada com G. Willow Wilson e com sua forma de contar mais do que uma história. É cultura, é debate, é visão do mundo moderno, entrou para a curta lista de favoritos. A edição está perfeita, o livro saiu pelo Fantástica Rocco e adorei a estampa de dentro da capa. A tradução da Ryta Vinagre está perfeita. Recomendado a todos, saia de sua zona de conforto, leia Alif, e se surpreenda. Recomendo tanto a quem verá o lado fantasia da história como para quem verá além. Uma cidade no oriente, um hacker, um censor obcecado e um livro misterioso. Leiam! Até mais!

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