01/03/2017

Resenha - Dicas da Imensidão


Nome: Dicas da Imensidão
No Original: Wilderness Tip
Autor (a): Margaret Atwood
Tradutor (a): Ana Deiró
Páginas: 240
Editora: Rocco
Comprar: Amazon - Submarino - Saraiva - Cultura
Sinopse: Aos 77 anos, ela é ativa nas redes sociais, onde frequentemente expõe suas opiniões sobre temas como feminismo, meio ambiente, política e economia, assuntos presentes também em toda a sua extensa obra literária. Nesta coletânea de contos protagonizados por personagens femininas marcantes que inaugura o novo projeto gráfico para a obra da escritora pela Rocco, assinado pelo ilustrador Laurindo Feliciano, a canadense Margaret Atwood mostra mais uma vez por que é uma das principais vozes da literatura em língua inglesa contemporânea. São dez narrativas em que a fauna humana se apresenta em toda a sua banalidade e excepcionalidade, em que situações inquietantes subitamente desestabilizam o cotidiano de pessoas comuns, iluminando o instante único capaz de moldar uma vida inteira. Manejando com extrema habilidade os sentimentos, desejos, as frustrações e memórias de suas personagens, a escritora conduz o leitor por uma teia de histórias que falam da beleza e do mistério da condição humana.

Contos. O que falar de contos? Eu os amo e não canso de repetir isso a cada resenha e para uma leitora apaixonada por contos nada mais gostoso e gratificante do que se deparar com um livros de contos inteiramente original, diferente de tudo o que já havia lido no gênero. Dicas da Imensidão reúne dez contos espetaculares sobre a mulher e suas lutas, seus sofrimentos e suas visões. Margaret Atwood conduz o leitor com uma sinceridade visceral, que incomoda e inquieta. Conheçam.

Os contos que começam acompanham mulheres ao longo do século passado, passando por diversas décadas e diversos cenários, focando ora no período de transição da mulher de casa para a mulher que trabalhava e mais livre sexualmente. Tendo algumas cidades por cenário Atwood a cada conto volta-se para o seu Canadá natal e usa sua familiaridade com cidades como Toronto e Quebec para construir o retrato de suas mulheres e seus sonhos esquecidos, suas escolhas e suas personalidades únicas.

O primeiro conto "Lixo Verdadeiro" sobre um acampamento de verão para garotos e suas garçonetes já indica pelo tom o que vem mais a frente. Garotos de 12 a 14 anos se divertem observando as garçonetes de 17, 18 anos se bronzeando ao sol no horário de folga, ora de roupas de banho, ora nuas elas leem revistas e conversam enquanto os garotos escondem-se pelas moitas e espiam pelo único binóculo que possuem. Joanne observa a todas e fica ao mesmo tempo irritada e intrigada com Ronette, a mais esbelta e livre delas. Porém o preço dessa liberdade é caro e como uma história de romance barata Joanne acaba percebendo que não é tão feliz quanto aparenta. Através das entrelinhas ficamos com o retrato quebrado de Ronette e suas escolhas. Fato que se repete nos contos "Bola de Cabelo", "O Homem do Brejo", "A Era do Chumbo" e no conto que dá nome a antologia "Dicas da Imensidão", histórias de mulheres, escolhas e homens que retratam bem o que a mulher tem de enfrentar no mundo ainda hoje, indo além do desenho comum que temos do preconceito, Atwood recorta a realidade e a eterniza em cada um desses contos.

Já nos contos "Ìsis na Escuridão", "Morte por Paisagem", "Tios", "Peso", e "Quarta-feira Inútil" a autora muda um pouco o foco, para mulheres cuja independência não era tão real, era amarga e confusa. Seja na escolha pelo fim, seja na solidão forjada ou no impacto da violência repentina com alguém que era o retrato de mulher forte.

Explorando metáforas, desconstruindo a vida dessas mulheres, sua vulnerabilidade e principalmente sua melancolia em comum a autora através de uma escrita marcante, que consegue captar o menor dos detalhes, seja em uma expressão ou gesto perturba o leitor com a voz dessas mulheres. São diversas mulheres marcadas por suas experiências, cansadas do enfrentamento constante que é a vida de uma mulher. Leitura que flui em um ritmo diferente e cativa o leitor com a surpresa incomoda ao fim de cada conto, a sensação de "eu já vi isso antes", seja em notícias de jornais ou relatos de amigas e/ou conhecidas. Atwood acerta em cheio a ferida e é com um sorriso irônico concordamos com seus contos e a ironia contida em cada um deles.

A edição da Rocco está ótima, um tradução cuidadosa e uma arte bonita que casa muito bem com a história. Recomendo a todas as leitoras do blog, seja jovem ou seja mais velha, assim como para os amantes dos contos e para aqueles leitores que querem um ponto de vista inquietante sobre a vida. Um dos melhores livros de conto que já li. Leiam! Surpreendam-se! Até mais!


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