11/03/2015

Resenha - Amy & Matthew


Nome: Amy & Matthew
No Original: Say What You Will
Autor (a): Cammie McGovern
Tradutor (a): Raquel Zampil
Páginas: 336
Editora: Galera
Comprar: Submarino - Travessa - Saraiva - Cultura
Sinopse: Amy e Matthew não se conheciam realmente. Não eram amigos. Matthew sabia quem ela era, claro, mas ele também sabia quem eram várias outras pessoas que não eram seus amigos. Amy tinha uma eterna fachada de felicidade estampada em seu rosto, mesmo tendo uma debilitante deficiência que restringe seus movimentos. Matthew nunca planejou contar a Amy o que pensava, mas depois que a diz para enxergar a realidade e parar de se enganar, ela percebe que é exatamente de alguém assim que precisa. À medida que passam mais tempo juntos, Amy descobre que Matthew também tem seus problemas e segredos, e decide tentar ajudá-lo da mesma forma que ele a ajudou. E quando a relação que começou como uma amizade se transforma em outra coisa que nenhum dos dois esperava (ou sabe definir), eles percebem que falam tudo um para o outro... exceto o que mais importa.

Quando a Galera anunciou que lançaria o livro de Cammie McGovern esperei com ansiedade pelo lançamento e em janeiro deste ano a edição chegou com um título bem diferente do original. O que me deixou curiosa e ansiosa foi a história que ousava ir além do padrão ao trazer uma jovem que enfrenta sérios problemas em seu dia a dia como protagonista. Amy & Matthew é mais do que o rótulo sick-lit sugere e surpreende o leitor ora pela crueza ora pela sensibilidade. Conheçam.

Quando os e-mails de Amy começaram a chegar, Matthew ficou nervoso e estava mais uma vez em dúvida se deveria ter atendido o pedido que ela lhe fizera meses atrás. Por todo o tempo que ele se lembra Amy ia para o colégio acompanhada de um adulto, um assistente que estava sempre com ela, ajudando-a em seus problemas. Amy tinha um lado do corpo praticamente paralisado, sempre de comia fazia a maior sujeira e um lado da boca caído não contribuía, muitas vezes ela babava e uma das suas mãos nem sempre obedecia aos seus comandos, usar um aplicativo para conversar melhorou sua vida estudantil, mas com um adulto a seu lado ela nunca teve chances de fazer amizades por isso tivera a ideia de no terceiro ano ter colegas como auxiliares ao invés de adultos. Pedira a Matthew para se escrever pois ele foi o único que teve enxergou por baixo da superfície de boa aluna feliz, ele tivera coragem de dizer que sua redação não era sincera, de que ela não lamentava perder tudo o que perdia e que era feliz. Matthew pensou que Amy ficaria zangada, e se surpreendeu com o que ela disse. Mas sem saber ao certo porque ele aceitara a ir na reunião com sua mãe e fora um dos escolhidos para auxiliar Amy. Matthew gostava de observar Amy e conhecia algumas peculiaridades sobre ela, mas estava nervoso se era adequado para ajudá-la a fazer amigos afinal ele não tinha muitos. Não desde que começara a contar e pedir desculpas várias vezes, a fechar e abrir de forma contada e a organizar sem parar. Ele sabia que era um problema, mas tentava não pensar nisso. O que Matthew e nem Amy contavam era que os dois seriam mais do que amigos, mais do que perfeitos um para o outro e à medida que o ano passa e o que não é dito fica no ar muitas coisas mudarão para sempre na vida de Amy e Matthew.

É a partir dessa premissa que a história se desenvolve, a partir desse encontro improvável que tudo acontece. Com uma sensibilidade que vai um pouco além da realidade Cammie McGovern nos conta uma história tocante, surpreendente e que deixará o leitor cheio de perguntas ao final da leitura. O ritmo é fluido e a autora alterna momentos de narração entre os dois protagonistas. Procurando lidar mais com a relação entre os dois do que com a vida pessoal difícil de Amy ela nos leva por um relacionamento que evolui da amizade para algo indefinido e joga na cara do leitor o que a nossa sociedade ainda não aprendeu a aceitar: que pessoas com deficiências, mesmo as mais graves também amam, também sentem desejo e também se apaixonam. Ainda ficamos chocados com o que é natural de todo ser humano, mesmo os que nascem ou ficam deficientes física ou mentalmente.

Esse é um assunto que sempre vai render discussão, afinal quem somos nós para julgar se é certo ou errado uma garota, uma moça, que tem a metade do corpo com problemas devido à falta de oxigênio em seu nascimento, e que fala com ajuda de uma voz eletrônica e anda de andador, pode ou não fazer sexo, namorar e até casar e ter filhos? Por que o amor, a paixão, o desejo e o sexo devem ser coisas exclusivas de pessoas ditas normais? Por que um autista não pode amar? Quem disse que uma pessoa com paralisia cerebral não sabe o que é amar e desejar alguém? E é nesse ponto que a história de McGovern é uma sacudida para o leitor, ela erra sim ao suavizar e melhorar a vida social de sua protagonista, mas faz isso com uma boa intenção: mostrar que deficiente ou não todos têm o direito de amar, de desejar, de transar, de errar e acertar nas escolhas do coração. E é por esse enorme acerto que digo que leiam sim o livro, mesmo com a suavização da triste realidade que Amy enfrenta, o preconceito, as perguntas, os olhares de todos e o tratamento diferente que muitos pensam que têm de dar a ela só por sua deficiência, que ela não fez porque é inteligente ou brilhante e sim porque é deficiente, que a autora suavizou para focar na história de Amy e Matthew.

Leitura rápida, que cativa o leitor pelo diferente, pela curiosidade e sim, pelo preconceito que temos encravado em todos nós que diz que só os normais podem amar, casar e fazer tudo o mais. Cammie McGovern não foi perfeita, mas passou perto e no principal, na sua mensagem central ela acertou no alvo. A edição da Galera está ótima, mas podia ter feito uma capa mais original, que trouxesse a identidade do livro. O título apesar de ter sido pensado por causa de outro bestseller no fim casa bem porque essa é acima de tudo a história de Amy & Matthew e por isso até perdoo o título. Recomendado a todos que têm um coração no peito e podem admitir que o amor e o sentir é para todos. Leiam e se surpreendam! Até mais!

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