13/04/2015

Resenha - Brasil em Movimento


Nome: Brasil em Movimento
Autor (a): Maria Borba, Natasha Felizi, João Paulo Reys
Páginas: 448
Editora: Rocco
Comprar: Amazon - Travessa - Saraiva - Cultura
Sinopse: Reunindo textos, entrevistas e trabalhos artísticos de personalidades de diferentes áreas, como Vladimir Palmeira, Gilberto Gil, Cildo Meireles, Daniel Aarão Reis, Jorge Mautner, Ernesto Neto, Carlos Lessa e Davi Kopenawa, entre outros, Brasil em movimento oferece uma análise plural acerca das manifestações que se espalharam pelo Brasil de junho a dezembro de 2013. Mais do que refletir sobre os protestos, o livro convida a uma reflexão mais ampla sobre a sociedade brasileira a partir desses movimentos, que surpreenderam tanto pela força das vozes insatisfeitas quanto pela violência da repressão, pelas manchetes da grande mídia e pelas coberturas informais difundidas pela internet, deixando como certeza apenas a constatação de que novos movimentos não podem ser reduzidos a velhas ideologias.

Quando as manifestações do meio do ano de 2013 começaram todo o Brasil assistiu pasmo o movimento das ruas. Uma parte da população porque jamais acreditou que essa nova geração seria capaz de arredar o pé de dentro de casa, outra grande parte porque a desconfiança faz parte do que o brasileiro é. Durante algumas semanas ouvimos a comoção da internet, frases de efeito e a sensação de que um sentimento de nacionalismo, patriotismo ou similar estava nascendo, assistimos a mídia mudar de lado e aos políticos ficarem tão sem ação quanto muitos especialistas em sociedade e afins. Porém o tempo passou, as manifestações arrefeceram e praticamente nada mudou.

Brasil em Movimento reúne o ponto de vista dos mais variados tipos, é um retrato vívido e diferente para quem acompanhou perplexo os movimentos de 2013 e até hoje não entendeu a importância dos mesmos, o que eles realmente significaram e o que faltou para eles serem o catalisador de mudanças que grande parte do país pensou que eles fossem. Uma das coisas mais interessantes de ler Brasil em Movimento foi o formato alternado, de entrevistas passando para ensaios e reflexões para voltar as entrevistas. Um dos textos que mais me surpreendeu e marcou durante a leitura foi o do escritor Fausto Fawcett, com seu Micaretas da Cidadania, que para muitos será o mais ácido do conjunto, o autor não poupa ninguém, nem o povo, nem a internet e menos ainda os políticos. É um olhar contundente e incômodo pela realidade que imprimi, falou da polícia, dos black blocks, da intolerância, do capitalismo e do cinismo que permeou todo o período, e por abordar a todos os lados com o mesmo tom seu texto é o que mais fica com o leitor.

É complicado citar todos os textos interessantes e injusto citar apenas alguns deles, o que notamos ao longo da obra é o constante comentário sobre o despreparo tanto do Estado quanto da população para movimentos como os que foram vistos em 2013. O povo, o estudante, a classe média, o manifestante não tem que o representa, não tem que suba em uma caixa de lidere o grupo, que transforma o milhão de pessoas em um só corpo. Ao contrário dos muitos otimistas imaginaram o que mudou das manifestações das décadas passadas para as de agora não foi o fim da repressão violenta e sim a falta de liderança. Divididos pequenos grupos não conseguem ser ouvidos, não importa se a soma dos grupos forma uma grande massa, é preciso ter voz, e uma voz que incomoda, que cobra de maneira inteligente.

Das entrevistas chama atenção à de Vladimir Palmeira, onde de modo simples, objetivo e sincero ele responde perguntas sobre o futuro do país, sobre as mudanças que essas manifestações poderiam trazer, sobre o passado recente e sobre o direito do povo. Saindo um pouco do tema do livro temos a entrevista do antropólogo e coronel da polícia militar do Rio de Janeiro, Robson Rodrigues da Silva onde é discutida a formação das UPPs, e o modelo arcaico de polícia, a polícia criada por um governo temeroso e educada no sistema de hierarquia, que trata o povo como inimigo. Os comentários dele sobre o quão difícil é mudar a mentalidade dentro da PM ecoam o que muitos brasileiros já sabem.

Quase dois anos se passaram das manifestações de 2013, o Brasil foi as urnas em 2014 e agora em 2015 não notamos nem sobra de toda aquela energia de protestos. O brasileiro mais uma vez votou em políticos notadamente corruptos, mais uma vez reelegeu senadores investigados e mais uma vez reclama sem ter o direito. Poucos meses depois de uma disputa acirrada entre Aécio e Dilma vemos o país cair maciçamente em cima da presidente que eles mesmos elegeram, o brasileiro não mudou, e pelo que vejo não mudará tão cedo, enquanto não assumir seus erros, enquanto não aprender a ter consciência de que seus atos tem consequências e que se todo mundo for votar pensando na velha frase "não adianta nada, é tudo corrupto" e similares o Brasil, também conhecido por gigante adormecido, jamais vai acordar.

A edição da Rocco está primorosa, com fonte confortável, ótima diagramação, e escolha pertinente de textos e entrevistados. O cuidado com a edição fica visível pelo tempo em que demorou para sair. Sem pressa a editora reuniu um material de qualidade que é perfeito para os leigos entenderem um pouco mais do próprio país. Se você é sincero o suficiente de admitir que ficou sem saber o que era tanto furor e tão de repente, leia. Leitura recomendada a todos, estudantes ou não. Até mais!

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