04/06/2014

Resenha - Silo


Nome: Silo
No Original: Wool
Autor (a): Hugh Howey
Tradutor (a): Edmundo Barreiros
Páginas: 512
Editora: Intrínseca
Comprar: Submarino - Siciliano - Saraiva - Cultura
Sinopse: Em uma paisagem destruída e hostil, em um futuro ao qual poucos tiveram o azar de sobreviver, uma comunidade resiste, confinada em um gigantesco silo subterrâneo. Lá dentro, mulheres e homens vivem enclausurados, sob regulamentos estritos, cercados por segredos e mentiras. Para continuar ali, eles precisam seguir as regras, mas há quem se recuse a fazer isso. Essas pessoas são as que ousam sonhar e ter esperança, e que contagiam os outros com seu otimismo. Um crime cuja punição é simples e mortal. Elas são levadas para o lado de fora. Juliette é uma dessas pessoas. E talvez seja a última.

Silo é um daqueles livros que à primeira vista desconfiei e com um olhar mais atento fiquei profundamente interessada. Pensar na famigerada frase "mais uma distopia" para descrevê-lo quando o conheci foi o mais longe que passei da realidade. Chegando ao mercado de forma serializada o livro de Hugh Howey mudou não só a forma como muitos viam as publicações divididas como também o gênero da ficção-científica que há muito procurava por algo excepcional. Conheçam e entendam porque Silo é excepcional.

Como disse o livro reúne cinco partes, Holston, A Medida Certa, O Começo, A Descoberta e Os Abandonados. Cinco partes de uma história de revelações. Em um futuro não tão distante os seres humanos vivem em um silo. Um grande e complexo silo enterrado na superfície. Por séculos as pessoas vivem assim, confinadas graças ao ar tóxico e mortal que varre a superfície da terra. É nesse cenário que a história começa com o xerife Holston pedindo para sair. Pedindo para ir para a Limpeza. Todos ficam em choque e a prefeita Jahns mais do que todos. Ela sabia que Holston vinha sofrendo com a perda da mulher, mas não conseguia entender o que havia levado ao homem a pedir para sair. É a partir da saída de Holston que tudo acontece. Com o cargo de xerife vazio a prefeita tem de escolher um novo nome e é aí que entra Juliette, uma mulher inteligente, de trinta e poucos que vive nas profundezas, como Mecânica. Juliette chamou atenção do delegado Marnes anos atrás quando ajudou na investigação de um assassinato com observações perspicazes. Tudo o que Juliette sempre quis é consertar as coisas, manter as máquinas funcionando e consertá-las antes que eles estragassem. Desde que trocou os níveis intermediários pela Mecânica lá nas profundezas que Juliette trabalha com prevenção e quando a prefeita chega querendo que ela se torne xerife, Juliette mesmo relutando aceita, afinal lá em cima poderia fazer diferença. Poderia fazer algo para mudar o ritmo errado com que o Silo funciona. Mal sabia ela que sua subida seria o começo mais do que de uma revolução, o que começo de mudanças e revelações drásticas.

A premissa vai dessa descrição, com toda certeza muito além, mas não entrei em detalhes porque Silo é uma história que deve ser desvendada e saboreada enquanto lemos. Quanto menos você souber do que defini os rumos da trama central melhor. A narrativa de Howey é fluida, e a despeito da passagem lenta dos acontecimentos sua escrita é leve, cativando a atenção do leitor e tornando imperceptível o passar da história. Howey criou mais do que um futuro pós-apocalíptico, ele criou um conto de inquietação e acomodamento, uma história de coragem e choque, onde seus personagens principais são levados a agir pela situação e descobrem mais do que buracos na aparente máscara de perfeição.

As revelações foram dosadas com cuidado, e o ritmo ajudou a manter o leitor preso até o final. A sociedade que Howey criou é uma mistura única, e assim como toda sociedade socialista é uma ditadura disfarçada, com o verdadeiro poder nas mãos de poucos. O que nos leva a característica mais marcante do universo apresentado pelo autor: o comportamento da sociedade como um todo. As pessoas agem como um gado com ilusão de liberdade e controle. O cidadão comum, com emprego, família e uma vida estável age como se fosse dono de sua vida, felizes com a situação do Silo e o modo como Howey leva isso ao leitor é brilhante. Poucos sabem que a fachada de perfeição esconde algo podre e à medida que a história avança, conhecendo o passado e o que levou ao Silo ficamos ainda mais surpresos com a capacidade do ser humano de se colocar no controle das coisas.

Juliette é uma boa protagonista, mais velha do que o de costume em livros do gênero, inteligente e dona de uma força que funciona em todos os sentidos, ela não buscou ou se rebelou para se ver naquela situação. Juliette foi levada pelos acontecimentos e sempre do lado que é certo acaba no centro das mudanças. Por isso digo que a trama de Silo é sobre conhecimento, sobre informação e o que fazemos com ela, como lidamos com o que descobrimos. O fim abre possibilidades, mas também deixa claro que até mesmo os que desejam a verdade podem se corromper.

Leitura rápida, instigante, de ambientação imersiva e criativa. Hugh Howey conquista o leitor na primeira parte e nos mantém conectados a sua história de forma imperceptível pela força de seus personagens e pela força de um universo pós-apocalíptico permeado por temas humanos. Jogos políticos, intrigas, traições e segredos alternam com segredos e manipulação no foco dessa excepcional história. A edição da Intrínseca está ótima, fonte agradável, tradução cuidadosa e capa bem adaptada. Os direitos da adaptação da trilogia foram comprados pela Fox e mal posso esperar para ver um cenário tão rico e uma trama tão interessante ganhar vida. Recomendado a todos que procuram um futurista maduro, com temas bem desenvolvidos, ótimos personagens e narrativa instigante. Leiam e se surpreendam pela perspicácia e audácia do mundo de Silo! Até mais!

Silo - Hugh Howey
1- Silo
2- Shift
3- Sand

6 comentários:

  1. Não sei o que esperar muito desse livro, fico entre achar que é um livro que vou gostar e não. Vou acompanhar por resenhas.

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  2. Curiosíssima com esse livro. Uma distopia meio diferente.
    O livro é gigante mas pelo menos a narrativa é fluida.
    Uhu! Que bom que vai ter o filme!! Faz promoção do livro?
    Boa resenha!

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  3. Todo mundo falando tão bem desse livro que tá na lista de desejados, ainda mais que adoro uma boa distopia e só pela resenha já deu para ter uma ideia que é dos mais sérios ainda por cima, personagem de 30 anos? Coisa mais difícil de ver, gostei muito da resenha, me deixou mais curiosa do que já tava! Abs!

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  4. De fato, pela capa eu não dava muito pelo livro. Mas a resenha mostrou um universo inusitado e bem diferente! Já senti até uma certa afinidade por Juliette.

    Abraços,

    Horadeflorescer.blogspot.com

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  5. Não tinha lido resenha nenhuma do livro por incrível que pareça e adorei conhecer mais, todo mundo falando tão bem dele um tempo aí para trás, acho a capa muito bonita e sua resenha me deixou curiosa, nem imaginava uma distopia mais madura, eu adoro distopias e sua resenha me convenceu de vez, ótima resenha! Beijo para ti!

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  6. Primeira vez que vejo a resenha desse livro e me surpreendi, parece ser um livro muito bom. Apesar da capa ter deixado a desejar.

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