Resenha - O Peculiar

Nome: O Peculiar
No Original: The Peculiar
Autor (a): Stefan Bachmann
Tradutor (a): Viviane Diniz
Páginas: 272
Editora: Galera
Comprar: Submarino - Siciliano - Saraiva - Cultura
Sinopse: Escolhido um dos melhores livros juvenis de 2012 pelo Publishers Weekly. Stefan Bachmann começou a escrever o livro em 2010, quando tinha apenas 16 anos. Após a invasão do mundo pelos seres mágicos, as fadas foram aceitas entre os mortais, mas os mestiços não têm lugar, e a discrição pode ser a diferença entre a vida e a morte. Os irmãos Barthy e Hettie vivem com medo. Tudo piora quando Peculiares são encontrados, ocos, boiando no Tâmisa. Mas eles estão seguros em Bath, não? Talvez... Se não fosse pela misteriosa dama em veludo ameixa que aparece na vizinhança. Quem é ela? E o que quer?

O livro do americano radicado na Suíça, Stefan Bachmann, é um daqueles livros que desde antes do lançamento chamou minha atenção. Vendido como romance gótico que mistura aventura e mistério, a história criada por Bachmann é único, bastante inovadora e surpreendente. Misturando no mesmo universo uma Londres steampunk e diversos seres como fadas, anões e elfos, o autor desenvolve uma trama sombria, com ótimos personagens e elementos brilhantes. Conheçam O Peculiar.

A história começa nos contando como em um dia como outro qualquer os seres mágicos chegaram a Inglaterra. Em uma espécie de invasão séculos atrás eles simplesmente surgiram, e depois de uma guerra ser travada eles foram ao longo dos anos sendo assimilados na sociedade. Os goblins, gnomos e fadas mais arrojadas logo absorveram os costumes ingleses, trabalhando na mesma fumaça e morando nos mesmos cortiços, mas os seres de raça superior como os Sidhe, elfos, não se entregaram tão fácil e com seu porte altivo e olhar misterioso apenas aguardavam o dia em que faria a Inglaterra pagar e que voltariam a ser senhores de seus próprios salões. Vivendo nessa mesma Inglaterra estão Barthy e Hettie. Os dois são peculiares, crianças nascidas da união de humanos com fadas. Não estão lá e nem cá e por suas características diferentes são caçados em todos os lugares. Os dois irmãos vivem escondidos na própria casa, evitando os vizinhos e suas crenças. Quando crianças peculiares começam a aparecer assassinadas de forma brutal boiando no Tâmisa as coisas só pioram. Quem podia cometer um crime tão brutal? Bartholomew está assustado, mas isso não o impede de convocar uma fada escrava. Quando sua irmã começa a contar sobre um ser monstruoso que lhe conta histórias terríveis, Barthy acha que é sua fada, e quando ele perceber que não é será tarde demais para salvar a si mesmo e sua irmã do terrível destino que os aguarda. Do outro lado da cidade o Sr. Jelliby só queria continuar na sua vidinha, não era ambicioso como os outros parlamentares e só tinha conseguido o cargo por causa de sua mãe, mas depois de uma visita mal fadada a casa do Lorde Chanceler e um pássaro de metal e penas estilhaçado, o que o Sr. Jelliby consegue é acabar envolvido em uma trama de morte e assassinato. Sem saber ao certo se pelas mortes ou se pela promessa que fez, ele acabará no meio da história de Bartholomew e sua irmã.

É a partir dessa premissa estranha e curiosa que o autor Stefan Bachmann construiu sua história e o mais impressionante da narrativa é o tom de relato casual que ele imprimiu a todo o livro. É impossível não se envolver com seu mundo e mais ainda não se sentir íntimo da história, como se estivesse ouvindo-a da boca de um conhecido de longa data, como um caso. Alternando entre a voz narrativa de Barthy e a de Jelliby, o autor construiu sua história, desenrolando pouco a pouco o fio da trama, que ao final se mostrara apenas a ponta de tudo. Foi diferente acompanhar uma história juvenil narrada de um lado por um adulto, fiquei surpresa com os temas que o autor desenvolveu, o que mostra o potencial da história e ainda que ela é muito mais do que juvenil.

A ambientação é fascinante, é nessa construção do mundo e em cada detalhe cuidadosamente encaixado que Bachmann brilha. Seu estilo remete a Neil Gaiman, foi impossível não mergulhar em sua Londres steampunk mágica sem lembrar se de um dos meus autores favoritos. A mistura de sombrio com o cômico de uma sociedade alienada pela futilidade é perfeita. Bachmann conseguiu equilibrar tudo muito bem, levando junto para o leitor mais do que uma trama sobre fadas, sidhe e humanos, uma trama que critica o comportamento do ser humano, o quanto a inércia e o comodismo pode afetar o caráter de uma sociedade. Os capítulos finais são mais ágeis que a primeira parte, graças ao encontro dos personagens, que se entrosaram de forma engraçada e bastante crível. O fim deixa uma situação de prender o fôlego e mal posso esperar pela continuação.

Leitura rápida, instigante e fascinante. O universo imaginado por Stefan Bachmann é sombrio e audacioso, vai além de qualquer juvenil e com sua riqueza de detalhes e elementos poderia muito bem ter sido desenvolvido para um público adulto. Mesclando críticas sociais nas entrelinhas enquanto desenvolve uma bela história o autor consegue uma história única e criativa. A edição da Galera está ótima, fonte agradável, capa bem adaptada, tradução fluída e marcação de capítulos bonita. Adoraria ver um universo tão inovador e rico ganhando as telas. Recomendado a todos que procuram uma história diferente, repleta de elementos criativos, trama com mistérios e ação. Leiam e se encantem! Até mais!

Peculiar - Stefan Bachmann
1- O Peculiar
2- The Whatnot
3- Sem Título Ainda