13/02/2014

Resenha - Tigana: A Lâmina na Alma


Nome: Tigana: A Lâmina na Alma
No Original: Tigana
Autor (a): Guy Gavriel Kay
Tradutor (a): Carlos Daniel S. Vieira
Páginas: 368
Editora: Saída de Emergência Brasil
Comprar: Submarino - Siciliano - Saraiva - Cultura
Sinopse: Tigana é uma encantadora obra de mito e magia que vai marcar os leitores para sempre. É a história de uma nação oprimida que luta para se libertar depois de cair nas mãos de conquistadores implacáveis. O povo foi tão amaldiçoado pela feitiçaria do Rei Brandin que o próprio nome da sua bela terra não pode ser lembrado ou pronunciado. Mas anos após a devastação de sua capital, um pequeno grupo de sobreviventes, liderado pelo Príncipe Alessan, inicia uma cruzada perigosa para destronar os reis despóticos que governam a Península da Palma, numa tentativa de recuperar o nome banido: Tigana. Num mundo ricamente detalhado, onde impera a violência das paixões, um povo determinado luta para alcançar seus sonhos. Tigana é um épico sublime que mudou para sempre as fronteiras da fantasia.

Não vou começar a resenha com o clássico eu adoro fantasia e sim com a constatação de que mesmo com tantos livros bons de fantasia saindo é raro encontrar uma história que além de ser inovadora flua com tanta facilidade como aconteceu com a história de Guy Gavriel Kay. Já considerado um dos clássicos do gênero, Tigana chega ao Brasil dividido em dois volumes e nesse primeiro o autor já surpreende o leitor. Uma estruturação diferente dá vida a trama que flui com uma naturalidade desconcertante e a um universo brilhante.

A história é dividida em algumas frentes narrativas intercaladas as principais. Começamos conhecendo Devin, um garoto de dezenove anos que aparenta ter menos e que há anos viaja com a companhia de Menico, tocando e cantando de cidade em cidade. O talento de Devin para música nasceu desde cedo e nunca imaginou sair da desolada Asoli no norte para o mundo. Quando o Sandre, o duque de Astibar morre subitamente as vésperas do festival das Vinhas, Alberico de Barbadior não tem outra alternativa senão conceder os desejos do duque de um funeral completo. Sandre era o último sinal do passado e do sonho de liberdade de Barbadior. Quando a companhia de Menico é escolhida para realizar os cantos no rito do falecido duque, Devin sabe que estão as portas do reconhecimento que sempre imaginou. Mas a vida de Devin muda por acaso quando resolve seguir Catriana e o que ele ouve muda tudo. Um encontro no meio da floresta, os segredos do morto e uma verdade há muito esquecida. Na companhia de Catriana, Alessan e Baerd, Devin dará início a acontecimentos que colocarão todo o futuro da península de Palma em jogo. Enquanto distante no palácio de Brandin de Ygrath, Dianora vê sua vida mudar doze anos depois de chegar com um ódio férreo no coração, presa por sentimentos confusos, ela luta para conseguir fazer o que deveria ter feito há anos, mas as intrigas são perigosas sob o poder do tirano de Ygrath...

É a partir dessa premissa que a trama se desenvolve e Kay é brilhante ao trazer tamanha complexidade para seus personagens e seu universo. Numa versão fantástica da antiga Itália, que foge de comparações, o autor explora uma gama de personagens fabulosos nessa primeira metade da história. A narrativa é mercada por eles, suas conversas interiores e memórias ditam o tom que desenrola a trama. O ritmo é cadenciado e as descrições tão belas e vívidas quanto precisas, e o desenrolar da trama focado nos personagens possibilita mais do que inovação, uma profundidade maior para todo o quadro. Ao mesmo tempo que seus personagens são plenamente desenvolvidos e complexos, são também realistas, com conflitos e aproveitamento real na trama.

Com personagens que farão de tudo pela causa que acreditam o autor passeia pela tênue linha do moralmente aceitável. Temos heróis que são vilões, e vilões com traço de justeza e sofrimento. E ainda situações tão terríveis onde nem mesmo olhar para o outro lado garante sobrevivência. E o pior de tudo ações escabrosas pelas mãos de homens com boas intenções. E o autor é brilhante quando joga em um diálogo essa questão, será mesmo uma boa causa ou apenas vingança cega pelo que foi perdido?

A trama tem base numa premissa inovadora, uma causa que ainda não tinha visto na fantasia e o que enriquece ainda mais o desenvolvimento. Como se luta por todo um território aniquilado e apagado da memória sem se rebaixar ao nível dos homens que você chama de tiranos sanguinários? O próprio autor comenta no final do livro que Tigana é sobre a memória, a importância da cultura e as perdas que todos sofrem com guerras internas, sangue derramado pela vaidade de poucos. O autor também é preciso ao captar com clareza o ambiente, criando algo excepcionalmente vívido, mas sem perder em ritmo e beleza. O fim é um mero meio do caminho, com acontecimentos de clímax e que deixam mais do que tensão no ar. Ainda mais que a editora colocou os primeiros capítulos do outro livro no fim.

Leitura rápida, rica e instigante. Que surpreende o leitor com um debate interno e um choque diante de alguns acontecimentos. Guy Gavriel Kay é um escritor excepcional, com prosa rica e que carrega a trama com mais do que acontecimentos, mas com memórias e sentimentos. A edição da Saída de Emergência Brasil está ótima, fonte ótima, tradução fluida e uma diagramação primorosa. Uma edição cuidadosa e bonita. Uma história que se adaptada com fidelidade entraria no corredor dos melhores filmes do gênero. Recomendado a todos, não só para os fãs do gênero, mas para aqueles que querem uma história com personagens realistas, humanos e complicados, com causas ambíguas e tênues. Leiam! Até mais!

Tigana - Guy Gavriel Kay
1- Tigana: A Lâmina na Alma
2- Tigana: A Voz da Vingança

9 comentários:

  1. Já ouvi falar desse livro e parece bem legal, pois eu adoro fantasia!
    Sua resenha ficou ótima!

    Beijos,
    Rafa Mello-Eu + Livros
    www.eumaislivros.com.br

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  2. Tava esperando essa resenha sua há uns tempos, e amei ela.
    O livro parece ser muito bom, cheio de intrigas. Vou ler.
    Beijos <3

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  3. Quando vi a capa desse livro, ele nao me chamou muita atençao...Mas um dia resolvi ler a sinopse e ate que a historia parece ser legal...

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  4. Ei! Tava esperando a resenha e adorei tudo o que disse, quando vi a capa achei que era fantasia diferente pelo fundo da capa e acertei porque parece perfeito o que disse de recriação de algo como a Itália, adoro personagens músicos (Kvothe) e to curiosa demais para ler, mas quero esperar a parte 2 sair, sabe quando vai sair? Beijo! Adorei a resenha!

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  5. Não sei porque quando conheci o livro achei que era ficção histórica e não fantasia, e mesmo com a resenha ainda acho que ele é mais assim do fantasia, e eu adoro isso, vi comentários sobre o autor falando que ele faz muito isso, e a resenha me deixou com muita vontade de ler, personagens ambíguos são demais, e adorei a capa. Abs!

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  6. A Saída está publicando ótimos livros de fantasia, e esse é mais, com certeza quero ler e tenho certeza que irei gostar, sua resenha despertou mais esse desejo, gosto de situações ambíguas e personagens reais e complexos.

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  7. To doida para ler um livro dessa editora, esse parece mais histórico do que fantasia pelo que tinha visto, mas sua resenha meio que muda isso, gostei do seu ponto de vista, e tal, e fiquei curiosa com os personagens e gostei por seu só dois livros.

    Beijos. Camis

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  8. Cada resenha sua da Saída de Emergência me conquista mais, li Mago Aprendiz por causa sua e adorei, esse parece ótimo também, a resenha me deixou curiosa e a capa também por causa da Itália no findo, a resenha me deixou achando a história mais intricada, parece legal. Bjo para ti!

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  9. Estou muito ansiosa para ler este livro, estou só esperando ter um tempinho pra ele. Aposto que vou adorar!

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