09/10/2013

Resenha - Filhos do Jacarandá


Nome: Filhos do Jacarandá
No Original: Children Of The Jacaranda
Autor (a): Sahar Delijani
Tradutor (a): Celina Portocarrero
Páginas: 232
Editora: Globo
Comprar: Travessa - Siciliano - Saraiva - Cultura
Sinopse: Em 1983, uma menina chamada Neda nasce dentro de uma prisão em Teerã, capital do Irã. Sua mãe é uma prisioneira política que só consegue cuidar da filha recém-nascida por alguns meses antes que ela seja levada, à força, para longe de seu convívio. Neda é uma personagem fictícia de Filhos do Jacarandá, primeiro romance escrito por Sahar Delijani, mas sua história se mescla com a da própria autora, que passou seus primeiros 45 dias de vida na penitenciária de Evin, na capital iraniana. Não chega a ser uma biografia, mas é inspirado em experiências reais dos pais e familiares de Delijani depois que o país passou de monarquia a república, com a revolução de 1979 – que derrubou o xá Reza Pahlevi e instituiu o comando do aiatolá Khomeini. Seu tio foi executado e seus pais, contrários a ambos os regimes, foram encarcerados.

Quando cadastrei o livro no Skoob nas semanas próximas ao lançamento não esperava lê-lo em tão breve. Porém a editora ofereceu um exemplar para eu resenhar e fiquei muito feliz. Afinal não só é bom sair da zona de conforto como ler uma história mais realista. Além disso estava querendo ler algo com esse cenário desde que li A Cidade do Sol. Com uma prosa bela e entrecortada Sahar Delijani nos apresenta um apanhado de um período histórico tenso pontuado por grandes personagens.

A história começa no passado durante a primeira revolução iraniana nos anos 80, nos apresentando Azari, Parisa, Amir e Maryam cujas vidas foram sacudidas pela ascensão do novo governo. Jogados na cadeia sem saber ao certo qual o crime haviam cometido eles veem seus filhos arrancados de si. Azari que dá a luz na cadeia tem de entregar a filha para a mãe cuidar, Parisa não sabe o que foi feito de seu filho. Quando prenderam ela e o marido ele estava comendo na mesa de casa. Todas essas crianças vão parar na casa de Leila, tia de muitas delas ou apenas conhecida das mães. Leila viu as irmãs casar, formarem família, e também viu suas vidas partindo e seus filhos sozinhos. Com o passar dos anos Leila abriu mão da própria vida para cuidar de Omid, Forugh, Sara, Dante e tantas outras. A casa de Maman Zinat onde tantas mulheres procuravam abrigo. Mulheres fugindo dos maridos, garotas fugindo de casa, mães desesperadas sem onde deixar os filhos. Sob o pé de jacarandá e suas flores roxas todos encontraram um refúgio onde não podiam ser alcançados. E Leila viveu sua vida para eles, até o dia em que subitamente as mães ausentes estavam de volta e suas crianças foram levadas. Com a morte de Maman Zinat todos retornam e com eles todas as memórias. Um tempo de dor, mas também de muito amor, redenção e esperança.

A premissa do livro é a vida partida de tantas pessoas por causa de uma revolução que começou como esperança de mudança para melhor e terminou em um pesadelo onde ninguém estava a salvo. Famílias separadas e vidas mudadas para sempre, mas no meio disso tudo um refúgio estável, um pedaço onde os frutos dessas famílias partidas encontraram um lar. Crianças que carregam em suas vidas as marcas da instabilidade de um país, que viram suas vidas mudarem diversas vezes. É a partir dessas vidas que Sahar Delijani constrói o mosaico que forma a história de Filhos do Jacarandá.

A narrativa entrecorta diversos períodos e diversos personagens, construindo pouco a pouco uma história que tem como base mais do que as radicais mudanças na política do Irã. Apesar de ter diversas vozes narrativas a história ressoa em um mesmo tom, os personagens têm forças semelhantes e a forma que descrevem suas vidas é uma das coisas que mais marcam no livro. Com descrições vívidas a autora revela ao leitor um cenário que surpreende pelo calor humano, e os sentimentos que eles passam. Para quem imagina apenas o Irã das notícias de jornais é surpreendente o ambiente que acompanha os personagens. O desenrolar da história fecha o ciclo dessas vidas partidas com uma nova revolução e uma nova promessa.

A leitura flui rápida e a escrita de Sahar Delijani é pontuada por um tom inconfundível de realidade. A história que a autora conta não é apenas sua ou de seus personagens, pode ser confundida por tantas outras e o que fica é um retrato único dos efeitos da opressão nas vidas de uma geração inteira, e o sentimento constante de busca por algo. A edição da Globo está ótima, fonte boa, tradução cuidadosa e uma boa opção de capa. A história renderia uma bela adaptação. Um retrato de um país que poucos conhecem além das notícias. Recomendado a todos que buscam um romance realista, com belos personagens e passagens líricas. Um romance feito de sentimentos, sobre amar um país que apenas eles têm a chance de enxergar. Leiam! Até mais!

13 comentários:

  1. Eu li o Caçador de Pipas e o livro me lembrou dele assim que comecei a ler a resenha, mas depois fiquei com a impressão de que é algo mais, não sei, pareceu muito bom, mas com mais personagens e sentimentos, achei o negócio da história de girar em torno da árvore muito bem pensado. Ótima resenha, me deixou com vontade de conhecer! Bjo!

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  2. Vi quando você cadastrou o livro no Skoob, mas não tinha me interessado muito, mas pela resenha parece uma história linda, com grandes personagens. O que você falou dos personagens me deixou curiosa, sobre as marcas que eles têm por causa da vida que tiveram. Adorei a resenha! Abraços!

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  3. Esse livro parece muito emocionante. Ganhei um exemplar na parceria também, mas ainda não chegou. Estou ansiosa para ler, principalmente porque estou numa fase de livros mais realistas e intensos.

    Bjs, Isabela.
    www.universodosleitores.com

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  4. Olá, Yas! Não conhecia essa autora, mas como citou, tenho vontade de ler Caçador de Pipas há um bom tempo; pode ser então, que o livro da Sahar Delijani, desperte meu interesse assim como Khaled Hosseini conseguiu com o seu aclamado livro. Gosto muito de histórias que apresentem a esperança em meio ao caos, em meio a dor da sobrevivência. Isso nos faz valorizar mais a vida, ao menos em mim, essa é uma lição que sempre trato de carregar. E, posso ver que nessa história, há muito de amor e de união entre a família (mesmo separada). É sempre gratificante poder conferir livros assim. Já está anotado; espero poder ler "Filhos do Jacarandá" logo. Aliás, preciso dizer: essa capa é linda! Beijocas.

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  5. Eu não me lembro se eu já li algo do gênero, talvez. O fato é que eu leria, me pareceu bem interessante.

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  6. Eu não tinha me interessado muito pelo livro, mas gostei bastante da resenha, então quem sabe mais pra frente né, eu não dê uma chance ao livro :D
    Valeu pela dica

    Beijo

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  7. Gostei muito da sua resenha. Andei lendo outras resenhas e vi que tem pessoas que gostaram do livro, outras acharam monótono pois tem minúcias de detelhes, etc... Fiquei na dúvida e como não gosto de ficar assim resolvi ler o livro e tirar minhas conclusões.

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  8. Outra ótima resenha, fazia muito tempo que não passava aqui e adorei a dica, não conhecia e li o livro que você falou no 1º parágrafo e gostei, também gostei do que falou da escrita e dos personagens, parece um livro que fica por ser diferente de tudo. Adorei a resenha e beijos!

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  9. É um livro que falar de história e desventuras devido a decisões políticas, deve ser um livro bom, lindo e triste, tudo ao mesmo tempo.

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  10. Parece uma história linda, sobre muita força e o jeito que você falou do livro me deixou com vontade de ler, achei a história muito boa e o romance mais real do que nos outros. Ótima resenha, beijo!

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  11. Acho que essa qualidade da escrita, que mostra muita realidade, é devido a experiência parecida que Sahar passou. Aliás, que experiência né? Só por conta disso iria garantir um livro intenso.
    Mas de qualquer modo, é algo para se ler com inspiração, para absorver cada detalhe. Eu leria =D

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  12. Oi!
    Acho que nunca li um romance realista, não consigo imaginar qual seria a dor da mãe ao ser arrancada da sua casa e não saber o motivo e um tempo depois ter o seu filho tirado e não saber se irá encontrá-lo ou não, ou mesmo para criança que deve saber que está ali porque seus pais estão presos.
    bjs

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  13. Parece um daqueles ótimos romances, mais sérios e poéticos que é raro de encontrar. Gosto bastante do autor dos outros livros com esse cenário e fiquei bastante curiosa. Sua resenha fez parecer um daqueles livros que não esquecemos que lemos. Adorei a resenha, Beijos!

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